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Redes Sociais: igualdade ilimitada ou espetáculo?

“This hunger for celebrity news is like a disease” Patti Smith

Vídeo acima traz uma entrevista com Patt Smith, a ‘Rainha do Punk’. A cantora participou de um evento sobre propaganda em Cannes e falou da necessidade das pessoas em acompanhar as novidades sobre celebridades. Para a hoje ‘avó do punk’, essa “fome por notícias de gente famosa se caracteriza como uma doença”.  

Muito tem se falado nos últimos tempos de como as redes sociais – Twitter e Facebook, principalmente – vêm contribuindo para a difusão da igualdade. Manifestações ao redor do mundo, e também aqui no Brasil, demonstraram como a web tem o poder de congregar os indivíduos em torno de uma causa, acabando inclusive com um monopólio da informação por parte de pequenos grupos “oligárquicos”. Além disso, as redes sociais colocam no mesmo balaio celebridades e sujeitos comuns, que interagem de forma direta.

Em parte, isso é verdadeiro. Não sou entusiasta, nem apocalíptico, no que diz respeito às redes sociais, pois tenho a percepção de que visões extremadas tendem a nos tirar a capacidade de reflexão e autocrítica. Contudo, devemos admitir: essas ferramentas possibilitam uma capacidade de mobilização nunca antes descrita ou, desconfio eu, sequer imaginada.

Por outro lado, uma pesquisa divulgada na última Social Media Week demonstrou que a mídia tradicional ainda pauta a mídia social, a segunda funcionando apenas como meio de repercussão da primeira. E, pensando friamente, quantas pessoas públicas não “existem” na rede graças ao trabalho de assessores e especialistas em mídia digital, construindo a imagem que quiserem de si próprios.

Chamo a atenção para esse fato, pois proponho um questionamento: até que ponto esse “poder social” existe? E, mais importante, até que ponto estamos dispostos a aderir a ele? Pergunto tudo isso porque descobri recentemente uma publicação online que trata exclusivamente de registrar a vida da “Alta Social Media” (sic) brasileira. Podemos considerá-la a Revista Caras das redes sociais. A mim, parece contraditória, em um ambiente teoricamente democrático, essa autodenominação. Pois, se existe uma alta social media, subentende-se que há uma baixa social media, que não mereça tanta atenção.

Isso evidencia um fato deprimente: todos queremos e agimos nas redes para sermos retuitados, curtidos, consumidos. Mas e o que somos na internet, reflete a nossa essência? Ou apenas criamos uma imagem que sirva para nos tornarmos “alta social media”, mais consumidos que os demais. Para reflexão, deixo aqui um trecho retirado da sociedade do espetáculo, escrito por Guy Debord em 1931:

“O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas midiatizada por imagens”.

Cada um tire suas próprias conclusões…

 

Postado por: Filipe Rubim

  

  1. junho 29, 2011 às 1:43 pm

    “Nas redes, estamos na era do não-pensar, na era do deixa rir, na era do comentar”…..nossa matou a pau Juvenal….

  2. junho 29, 2011 às 1:22 pm

    Sou entusiasta do uso de redes sociais, mesmo sabendo que, daqui a uns 5 anos, provavelmente serei entusiasta de outra coisa, nem me lembrando muito desse atual modelo de “rede”.

    E é exatamente isso o que acontece. As coisas mudam muito depressa. Não posso afirmar com certeza se as redes sociais são o futuro, como tantos “especialistas” dizem. Elas são o presente, está claro. Cada vez mais gente se entrega à elas, cada vez mais gente se rende ao poder do smartphone como ferramenta de inclusão na social media.

    Todos querem ser vistos, comentados, mas é óbvio que há uma Alta Social Media, composta por políticos, artistas e, curiosamente, pessoas comuns (blogueiros, em sua maioria).

    Os ditos “celebridades” apenas refletem nas redes sociais sua fama fora delas, a la Charlie Shen e seus 1 milhão de seguidores em um dia no Twitter.

    A mim, os “verdadeiros líderes da Alta” (se é que se pode dizer uma barbaridade dessas) são as pessoas comuns que conseguem alcançar expressivos índices de engajamento sem precisar estar com a cara na TV, ainda que comecemos a ver o caminho contrário ser traçado. Os famosos da internet já estão chegando às TVs, rádios e afins.

    Concordo que as redes sociais são catalisadas pelas mídias tradicionais, que não ter pernas para andar sozinhas. Uma morte na novela, uma notícia no JN, ou algo do gênero, indubitavelmente se torna Trending Topic. Como trabalhador de redes sociais, esse fenômeno acaba me brochando um pouco. Campanhas de empresas sofrem com o desinteresse do público, que está muito mais aberto ao besteirol e entretenimento do que à conteúdos relevantes. Nas redes, estamos na era do não-pensar, na era do deixa rir, na era do comentar.

    Ainda há muito a ser trilhado na social media. Arrisco dizer que nem os mais especializados sabem dizer para onde isso tudo vai, qual é o próximo passo. Apenas alguns gurus nas grandes corporações podem ditar ou prever alguma coisa com um mínimo de segurança. Por outro lado, também enxergo a possibilidade de termos outro Mark que surpreenda a todos com uma novidade que contrarie qualquer previsão.

    Vamos acompanhar.

    • junho 29, 2011 às 1:44 pm

      ótimo comentário….trouxe uma outra visão…e precisamos debater isso constantemente para (tentar) saber onde vai dar.

      • junho 29, 2011 às 1:54 pm

        Lembrei-me de uma fala da Marcia Tiburi no Congresso de Jornalismo cultural, onde ela disse que a TV não nos deixa pensar pois é uma sucessão de quadros. Acho que, por ser uma sucessão de quadros, tuítes, etc., estamos nessa era do não pensar…vale a reflexão!!

    • Emenrson
      julho 2, 2011 às 1:28 am

      Eu acho que as mídias sociais andam sozinhas sim. Elas estão refletindo o gosto da maioria das pessoas: Morte na novela, notícia no JN…
      Há, na verdade, um bom número de internautas que entra na dança dos TT’s vindos de assuntos da mídia tradicional, apenas pelo nonsense da situação ou para tentar chamar a atenção.
      Quanto à migração entre mídias, não só pessoas das mídias sociais estão fazendo o caminho inverso, como também as pautas estão vindo dessas mídias. Vide Mariana Godoy que, ironicamente, virou notícia ao mandar um “Senta lá, Claudia” ao vivo e o fantástico publicando #hastags.
      Quanto às campanhas das empresas, o desinteresse do público já ocorria. A diferença é que os telespectadores não trocavam de canal durante os intervalos das novelas e que, estrategicamente, as empresas costumam anunciar em todos os canais. Inevitavelmente, ao ser pesquisado, você já tinha visto a propaganda.
      As empresas de publicidade estão se adaptando e aprendendo a usar a internet. Dia desses, uma propaganda de TV anunciava seu produto com um interessante vídeo editado. Ao final, ela estimulava para que você assistisse a versão integral na internet. Achei muito bem feito!
      Curiosamente, não o vi! Não levantei para ligar o computador e acessar o tal vídeo. Ainda agora, sequer lembro qual a marca de que se tratava…
      Com o advento das “Smart’s TV’s”, a atenção das pessoas vai se pulverizar ainda mais. Desconheço quem irá gravar seu programa favorito de brigas de famílias e assistir juntamente com os comerciais.
      Quem irá perder 1 minuto sequer para assistir comerciais em seu Vlog favorito? Eu já xingo aqueles letreiros malditos no rodapé do vídeo!
      O fato da internet ser uma via de mão dupla é seu melhor aspecto. Você interage só com quem quer. E há uma necessidade quase inerente ao ser humano em se destacar. Todos reivindicam seus 15 minutos.
      Essa superexposição individual é ótima! Adoro o início de preocupação de novos e jovens internautas com sua dificuldade de se expressar corretamente em público.
      A era do não pensar, do deixar rir e do comentar chega quase a ser uma evolução. Pelo menos, há interação.
      Até bem pouco tempo atrás, a maioria vegetava em frente a TV…

  3. Emerson
    junho 29, 2011 às 4:07 am

    Sou impelido a dizer que haverá na internet (principalmente nas midias sociais) desde a Alta Social Media até a Baixa Social Media. E antes que acreditem que estou falando sobre igualdade e direito de expressão, estou apenas imaginando que a sociedade se refletirá nesta nova mídia da mesma forma como faz nas outras.
    A diferença está no fato de que qualquer um pode criar seu própio canal no youtube.
    Eu reformularia a frase: “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas.”

    • junho 29, 2011 às 1:53 pm

      obrigado Emerson, ótimo comentário. Concordo contigo, as Redes Sociais tendem a refletir aquilo que a sociedade é. Brian Sólis tem uma frase bacana sobre isso, que não consegui achar…no fundo acho que é isso mesmo. Mas fica a dúvida: precisamos refletir as mesmas “desigualdades” na web?

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