Nós somos medo e desejo

Não quero partir de Descartes, nem citar qualquer sociólogo, ou pensador qualquer. Mas questiono a afirmação de que “somos seres racionais, feitos de vontade e entendimento” e confesso que, talvez algo não me deixa entender direito.

Eu, então prefiro outro filósofo que disse que “Nós somos medo e desejo, somos feitos de silêncio e som.” Aí sim, acho mais minha praia partir do pressuposto de que é o desejo, esse monstro do inconsciente, que domina nossas vidas (forte não?), e daí não consigo discutir a questão de vontade X entendimento.

Penso que apesar de todas as diferenças entre a sociedade brasileira e a européia já citadas pelos colaboradores do blog, o que se apresenta aqui é que podemos especular sobre como essa diferença se estabeleceu, mas não dá pra negar que ela seja real (a ponto de sensibilizar o Filipe por 2 vezes: ao saber as notícias de sua amiga e ao ver o filme Família Braz – Dois Tempos).

 

Postado por: Edmundo Rodrigues

  

Pelo direito ao anonimato

A capa do jornal “Folha de São Paulo” de ontem (14/06/2011) estampou fotos de um homem de meia idade, trajando terno e gravata, negociando, adquirindo e consumindo crack na região central da cidade de São Paulo conhecida como “Cracolândia”.

Até ai nenhuma novidade: o crack tem devastado nossa sociedade a despeito da condição social do dependente. Hoje as drogas não têm mais “uma cara”.

Mas depois da Folha de ontem o crack tem um rosto. As fotos foram divulgadas sem garantir o anonimato do homem fotografado. Drogas geram notícia? Sem dúvida. A vida privada de um dependente gera notícia? Neste ponto acredito que o jornal tenha ultrapassado os limites da ética jornalística. Mostrar o rosto daquele homem de maneira tão clara, a ponto de ser possível identifica-lo, foi uma atitude totalmente desnecessária para a notícia e capaz de produzir efeitos devastadores para aquele homem e sua família.

O jornal defendeu-se alegando que a foto foi feita em um ambiente público – uma rua frequentada por diversas pessoas – e por este motivo o direito a privacidade não poderia ser requerido. A Folha está fundamentada legalmente no argumento, mas sua atitude não condiz com as expectativas que temos de um jornal com mais de 90 anos de história.

Postado por: Ana Flávia Bezerra

  

 

A cultura para São Paulo

Você deve ter percebido que o título acima tem uma discreta ambigüidade, resultado da nossa polêmica (e para mim uma droga!) mais recente reforma ortográfica. Mas nesse caso a confusão causada pelo duplo sentido é bem-vinda porque São Paulo vai parar de verdade, e para discutir cultura. Escrevo isso com propriedade e sem medo de errar porque vem aí o 3º Congresso Internacional de Jornalismo, realização da Revista Cult com o SESC SP que ocorre entre 17 e 20 de maio no SESC Vila Mariana.

Nada mais nada menos que aproximadamente 70 participantes genuinamente comprometidos com a cultura – entre jornalistas, escritores, artistas, realizadores e acadêmicos do Brasil e do exterior – estão confirmados na programação, que vai contemplar o público com palestras, debates, bate‐papos e colóquios. Para completar, o mais sensacional: uma homenagem ao cineasta Glauber Rocha, mente geradora de Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe.

A lista de convidados internacionais inclui nomes consagrados como o cineasta alemão Werner Herzog, o historiador francês Roger Chartier, o jornalista e escritor norte‐americano Jon Lee Anderson, o escritor e filósofo esloveno Slavoj Zizek e autores como o cubano Pedro Juan Gutiérrez (“A Trilogia Suja de Havana”), o espanhol Enrique Vila‐Matas (“A Viagem Vertical”, “Paris não tem fim”) e a ensaísta Camille Paglia, também dos Estados Unidos.

 Já entre os brasileiros, além de diretores de redação, editores, críticos, articulistas e setoristas de cultura de alguns dos principais veículos de imprensa do país e da América do Sul, o Congresso reunirá, dentre outros, o cineasta Hector Babenco, o músico Zeca Baleiro, o artista multimídia Ivald Granato, a escritora Marcia Tiburi e os diretores de teatro Felipe Hirsch, Marco Antonio Rodrigues e Oswaldo Mendes.

Vale conferir a programação completa e reservar a data na agenda. Caso seja impossível, não tem problema! O blog da Moato estará lá para trazer em tempo real cada detalhe, seja pelo nosso Twitter @blogdamoato ou em posts aqui durante todo o evento.

SERVIÇO

3º CONGRESSO INTERNACIONAL DE JORNALISMO CULTURAL

Programação completa:

http://www.sescsp.org.br/sesc/conferencias_new/subindex.cfm?Referencia=7042&ParamEnd=2

Realização: Revista Cult / SESC São Paulo.

Local: Teatro do SESC Vila Mariana (próximo do metrô Ana Rosa).

Rua Pelotas, 141 ‐ São Paulo – SP. CEP: 04012‐000

INSCRIÇÕES ABERTAS Até 17 de maio de 2011 (enquanto houver vagas), pelo site http://www.sescsp.org.br ou pessoalmente nas Centrais de Atendimento das unidades do SESC SP (Capital e Interior)

Informações: De terça a sábado, das 10h às 19h, pelo telefone (11) 5080‐3008 ou e‐mail jornalismocultural@vilamariana.sescsp.org.br

OBS: Será emitido certificado para no mínimo 75% de pre sença.

Taxas de Inscrição*:

R$400,00 [inteira]

R$200,00 [usuário inscrito, maior de 60 anos, aposentado, estudante e professor da Rede Pública]

R$100,00 [comerciário e trabalhador no comércio de bens e serviços e turismo matriculado]

* valor único para participação em todo o Congresso.

Condições para participação:

‐ Para inscrições feitas através do Portal SESC e utilização de alguma categoria de desconto, será necessária a apresentação do documento para comprovação no ato do credenciamento.

‐ Para inscrições feitas pessoalmente nas unidades do SESC e utilização de alguma categoria de desconto, será necessária a apresentação do documento no ato do atendimento, na unidade escolhida.

 

Postado por: Filipe Rubim

Dedo no gatilho

“Ele falou que sempre que via um pôr do sol bonito como aquele sentia que não era para ele. Não sabia explicar. Era como se o pôr do sol fosse para outros e ele estivesse vendo clandestinamente, sem autorização, espiando o que não lhe dizia respeito.”

(Êxtase – Luis Fernando Veríssimo – O Estado de S. Paulo, 14/04/11)

Vivemos uma organização econômico-social que premia o sucesso, a saúde, a beleza. Feliz é quem possui essas três “qualidades”. Na maioria do tempo, somente acredita-se possuí-las. Os não agraciados por essas três dádivas são considerados infelizes por natureza – um fardo entregue, mesmo que não quisto, ou não assumido.

O infeliz é marcado, ignorado e excluído. Sua presença “mancha” a organização econômico-social: seu expurgo é questão de sobrevivência. Qualquer semelhança com pensamento de governos autoritários é mera coincidência.

O ser humano, por composição, é um ser de convívio social: seu sucesso, sua saúde e beleza – no sentido erudito das palavras – dependem necessariamente da comunidade em que estão inseridos, inclusive os infelizes. Qual seria a solução? Para alguns, criar sua própria comunidade, seu próprio mundo. E neste mundo, nós somos os excluídos.

Sinto pelas vitimas do Realengo. Mas não consigo deixar de sentir o peso do dedo desta sociedade excludente no gatilho daquela arma. No final das contas, estamos nos matando e não pretendemos parar.

Postado por: Ana Flávia Bezerra

Bolsonaro e a falta de papas na língua.

Me incumbiram de fazer um post sobre as polêmicas declarações do deputado federal Jair Bolsonaro. Antes de escrever a respeito, gostaria de elencar algumas de suas bombásticas frases e opiniões:

“Cada um faz o que quer com o seu corpinho cabeludo entre quatro paredes. Nada contra isso. Não quero que grupo GLTB crie currículo para escola do primeiro grau.”

“Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram bem educados e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu.”

“O filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um coro, ele muda o comportamento dele. Olha, eu vejo muita gente por aí dizendo: ainda bem que levei umas boas palmadas, meu pai me ensinou a ser homem.”

“Continuo achando que perde-se a oportunidade de matar mil lá dentro. Pena de morte deve ser aplicada para qualquer crime premeditado.”

Opinião sobre o massacre do presídio do Carandiru.

“A pena de morte vai inibir o crime. Nunca vi ninguém executado na cadeira elétrica voltar a matar alguém. É um a menos.”

“Eu defendo a tortura. Um traficante que age nas ruas contra os nossos filhos tem que ser colocado no pau-de-arara imediatamente. Não tem direitos humanos nesse caso. É pau-de-arara, porrada. Para seqüestrador, a mesma coisa. O cara tem que ser arrebentado para abrir o bico”

“[A ditadura militar deveria ter fuzilado] uns 30 mil corruptos, a começar pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso”

“Todos nós somos iguais perante a Lei. Eu não entraria em um avião pilotado por um cotista, nem aceitaria ser operado por um médico cotista”

“Desaparecidos do Araguaia, quem procura osso é cachorro”

“Atenção pais: os seus filhos vão receber um kit que diz que é pra combater a homofobia, mas que na verdade estimula o homossexualismo. Para mim isso é grave. Eu não admito você fazer apologia ao homossexualismo, idolatrar o homossexual. Com a mentira de estar combatendo a homofobia, eles estão estimulando o homossexualismo e abrindo as portas para a pedofilia”

“Eu não corro esse risco, eduquei muito bem os meus filhos. Nós somos produto do meio. Eu sou contra a adoção por casais homossexuais. Se qualquer um de nós for criado por um homossexual, como toda certeza vai ser um homossexual”. Ao ser questionado sobre como seria se tivesse um filho gay.

“Agora criaram a Frente Gay [na Câmara]. O que esse pessoal tem a oferecer? Casamento gay? Adoção de filhos? Dizer pra vocês, que são jovens, que se tiverem um filho gay é legal, vai ser orgulho da família? Esse pessoal não tem nada para oferecer”

Sempre acreditei na liberdade de expressão e no livre arbítrio, cada um tem o direito de acreditar no que quiser e de dizer o que pensa a respeito de qualquer coisa, o direito de cada indivíduo termina quando começa o direito do outro, ou seja, o Sr. Bolsonaro tem todo direito de dizer o que pensa, desde que essas palavras não envolvam diretamente a vida de outra pessoa. Não podemos crucificar uma pessoa por não aceitar o homossexualismo, da mesma forma que não podemos aceitar a falta de respeito. Dizer que todo gay é pedófilo ou promiscuo, ou que toda pessoa que convive com gay acaba virando gay, é injusto e cruel. E não é só o fato de não aceitar o homossexualismo e ser preconceituoso que me incomoda neste senhor, ser a favor da ditadura, da tortura e da pena de morte, me assustam ainda mais. Se ao invés de deputado, ele fosse presidente do Brasil, sofreríamos aqui a mesma repressão ditatorial dos países árabes.

Concordo com o Marcelo Tas quando diz que é importante ter a controvérsia para que possamos abrir um debate sobre temas tão importantes, mas que relutamos discutir por puro pudor. Mas acredito que você pode ser controverso sem perder o respeito, ainda mais quando se tem nas mãos um cargo tão importante. É necessário ter responsabilidade quando se é formador de opiniões, uma frase impensada pode gerar grandes estragos.

E você leitor do Blog da Moato, o que acha das declarações do Deputado Jair Bolsonaro? Concorda ou discorda? Ele deve ser punido? Deixe seu comentário expondo sua opinião!!!

Postado por: @ericoglauber

Terra de ninguém (?)

Debates acalorados sobre a liberdade têm dominado os principais fóruns de discussões sobre a internet. Este estudo não restringe-se aos entusiastas do software livre, mas também interessa os pensadores do “ser”. Somos realmente “livres” ou a internet apresenta somente um novo formato de grilhões sociais?

Ainda não temos respostas, mas as buscas não param. Neste sábado, os psicanalistas Oscar Cesarotto e João Angelo Fantini debaterão o tema em um evento gratuito na Livraria da Vila.

Serviço:

CAFÉ LACANIANO: O COMPLEXO DE ÉDIPO NO CIBERESPAÇO

Com os psicanalistas Oscar Cesarotto & João Angelo Fantini. Sábado (19) das 11h às 13h na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915 Pinheiros, São Paulo/SP).

Postado por: @ana_flowers

‘O cinema é o divã dos pobres’

Contardo Calligaris lançou a frase acima num ‘Café Filosófico’ (programa da TV Cultura) exibido em julho de 2007. Na ocasião, o famoso psicanalista filosofava com a cineasta Daniela Thomas sobre o ‘Amar no Cinema’. Enquanto Daniela listava os filmes que definiam sua vida, Contargo explicava nossa relação com o cinema e falava da importância da sétima arte para a psicanálise.

Para quem curte cinema e psicanálise, o Blog da Moato deixa aqui uma dica de evento que traz o casamento dos dois temas: Filmes da Psicanálise. O encontro acontece amanhã (11), das 18h às 20h30, no Centro de Estudos Psicanalíticos com a exibição do filme ‘La Luna’, do cineasta italiano Bernardo Bertolucci. Praticante de psicanálise e doutora em Processos de Singularização pela PUC-SP, Karin de Paula faz os comentários sobre o filme baseados no tema ‘Desejo e Ultrapassamento’.

Preço: R$ 45,00. Informações e inscrições pelos telefones (11) 3864 2330 / 3865 0017

Saiba mais: www.centropsicanalise.com.br

Postado por: @meiroca_