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Brazil – Quantos tempos serão necessários?


Esta semana tive a oportunidade de trocar e-mails com uma amiga muito querida com quem há tempos não proseava. Foi gratificante saber que ela se encontra very well em terras irlandesas, mais de 9 mil quilômetros distante da áurea paulistana, totalmente adaptada à nação de Saint Patrick. Contudo, tomo a liberdade de citar aqui no blog nossa conversa para exemplificar que a realidade a mim descrita por ela foi um pouco chocante, para não dizer deprimente, e me levou imediatamente à reflexão.

Com a Europa vivendo o calvário econômico noticiado pela mídia, no qual efeitos catastróficos como Portugal, Espanha e Grécia tornaram assunto batido, imagina-se que a situação no velho continente vá de mau a pior e, assim, devemos graças a Deus por nos encontrarmos em terra brasilis, tropical e bonita por natureza. Mas depois da mensagem na minha Caixa de Entrada, como que tomado por um súbito pessimismo lembrei-me de como na verdade o Brazil (com z mesmo, explico adiante) está longe de conquistas europeias do pós-guerra, como o welfare state, que tornam nosso modo de viver no capitalismo muito mais selvagem e depressivo.

O diálogo virtual descrito no começo do texto me incomodou severamente por relatar a história de uma jornalista que fora à Europa recentemente e lá encontrara uma situação muito confortável, mesmo vivendo com rendimentos de au pair (babá). Em suas próprias palavras, a vida na Irlanda tem sido tranqüila, “sem a pressãoo para ‘ter, ter, ter, comprar, comprar, comprar’ que acabamos atendendo aí (no Brazil) por tabela”.

Contrapondo-se a esse quadro, a competição por ocupação no lado de cá do Atlântico, mesmo em um contexto de crescimento econômico que permitiria o ‘pleno emprego’, acaba consumindo esforços prodigiosos dos cidadãos brasileiros para conseguir instrução e acesso ao consumo, abandonados à própria sorte, conforme demonstra o documentário “Família Braz – Dois Tempos”, que estreou nessa última sexta-feira nos cinemas brasileiros. Dirigido por Arthur Fontes e Dorrit Harazim e vencedor da última edição do festival É Tudo Verdade, o documentário mostra a situação financeira da família Braz em ocasiões distintas, 2000 e 2010, explicitando a clara ascensão social de cada um dos membros do lar da Brasilândia, periferia da Zona Norte Paulistana. Recorte histórico que capta um momento ímpar no Brasil, o filme pode servir como instrumento poderoso de propagação do direito à cidadania.

Essa é uma obra que merece ser vista e repercutida pela sociedade. Primeiramente, por registrar, mesmo que sem grandes pretensões, o reflexo do desenvolvimento econômico atual na população mais segregada, que é o caso dos habitantes das periferias das grandes metrópoles. Em segundo lugar, por proporcionar a tal população uma capacidade de pertencimento, talvez inimaginável anteriormente.

Esse reconhecimento pode ser um instrumento poderoso para a mobilização verdadeira e objetiva das zonas excluídas pela construção de um Brazil mais justo. Brazil com z, com muitas famílias Braz, ou s Silva, Souza, Santos, que pela primeira vez têm a chance de andar de avião ou de obter uma moradia própria. Brazil com mais justiça social e dignidade, que nos dê a oportunidade de não mais receber e-mails com conteúdo profundamente entristecedor.

Postado por: Filipe Rubim

  

  1. junho 15, 2011 às 1:11 pm

    Infelizmente as formas de poder como são hoje, no Brasil, nos faz viver o capitalismo de uma forma muito mais selvagem e primitiva incentivando o consumismo e se esquecendo dos valores morais e humanos. Espero que esse quadro esteja mudando.

  2. Thyago Santos
    junho 15, 2011 às 12:09 pm

    Belíssimo texto!

  1. junho 27, 2011 às 3:04 pm

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